André Luiz da Silva *
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Como cantava o saudoso Tim Maia, “Hoje é o dia de Santo Reis anda meio esquecido, mas é o dia da festa de Santo Reis”. O Dia de Reis, comemorado em 06 de janeiro, marca oficialmente o final dos festejos natalinos. É dia de desmontar a árvore de Natal, guardar o presépio na caixa, comer bolo de reis e começar a pagar os tributos, taxas e impostos como IPTU, IPVA, Conselhos de Classe, entre outros.
O Natal e o Réveillon marcam o tempo de comemorar a vida, propagar o amor e semear a esperança, pena que prometemos muito e realizamos poucas mudanças efetivas. O tão aguardado ano de 2024 já começou agitado por fenômenos naturais, além do aumento dos bombardeios em Gaza e na Croácia. Por aqui três acidentes com helicópteros e preocupantes revelações dos bastidores da política brasileira agitaram o noticiário.
Falando em política, o primeiro agito surgiu a partir das entrevistas do ministro do STF Alexandre de Moraes que apontam um suposto plano para prendê-lo e enforca-lo em praça pública. O segundo foi a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI cuja justificativa é avaliar as ONGs que atuam com pessoas em situação de rua e dependentes químicos na capital paulista, mas na verdade busca atingir o padre católico Júlio Lancellotti.
Segundo entrevistas do ministro, foram descobertos três planos: O primeiro previa que as Forças Armadas o prendessem e o levassem de Brasília para Goiânia; no segundo, os criminosos “se livrariam de seu corpo” nesse trajeto – ou seja, um homicídio; já no terceiro, “de uns mais exaltados”, segundo as palavras de Moraes, ele deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes.
As ações conspiratórias são inadmissíveis no estado democrático de direito. Além das investigações que apontarão responsabilidades e os processos judicias para aplicação das devidas penalidades, para recordar o Dia 08 de janeiro, está sendo organizado um ato denominado de ‘Democracia Inabalável’ que reunirá, no Congresso Nacional, representantes do legislativo, executivo e judiciário e cerca de 500 convidados.
Já na cidade de São Paulo, a malfadada CPI confirma que no Brasil, os governantes e parlamentares, em sua maioria, estão mais preocupados em oprimir do que cuidar das pessoas desprotegidas socialmente. O importante instrumento de atuação dos parlamentares não pode ser banalizado ou utilizado para perseguições. Há mais de 40 anos militando pelos pobres, o sacerdote Lancellotti, de 75 anos, é coordenador da Pastoral do Povo da Rua, da Arquidiocese de São Paulo e responsável pela Paróquia de São Miguel Arcanjo, da Mooca, desde 1986, onde começou o trabalho pastoral com populações de rua, menores infratores e crianças com HIV. Sua atuação possui grande reconhecimento, tanto que em 2020 recebeu uma ligação do Papa Francisco que recomendou que ele não desanimasse do trabalho, mesmo diante de todas as dificuldades.
Lancellotti não é unanimidade, nem procura ser, apenas age inspirado pelos ensinamentos de Jesus. Ele guarda muita semelhança com o Cristo ao fazer a opção pelos pobres, humildes e excluídos. Mestre e discípulo escancaram as mazelas de uma sociedade cruel que exalta os poderosos e massacra os desvalidos e isso incomoda demais.
Ainda motivados pelo restinho do clima natalino, colhamos a oportunidade para rever qual realmente é o nosso compromisso, com o combate à pobreza, às desigualdades e a dedicação aos menos favorecidos. Também qual o nosso comprometimento com a verdade e com a democracia.
Destacando a infeliz ação contra o sacerdote, é fundamental alertar que, quando os que defendem os desfavorecidos tornam-se alvos de ataques políticos, é momento de a sociedade pausar para refletir profundamente sobre qual caminho estamos adotando e onde queremos chegar.