Você já se perguntou o que existe nas profundezas extremas dos oceanos, onde a luz do sol nunca chega e a pressão é esmagadora? Essa é a zona hadal, a área oceânica mais profunda, localizada abaixo de 6 mil metros de profundidade.
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O local corresponde a acidentes topográficos do fundo do oceano, como trincheiras (também conhecidas como fossas oceânicas). É nesse lugar que se encontra a Fossa das Marianas, no Oceano Pacífico, o ponto mais fundo conhecido, que chega a até inacreditáveis 11 quilômetros da superfície.
O que significa zona hadal?
A “zona hadal” recebe esse nome em referência a Hades, o deus e o reino dos mortos na mitologia grega, o que nos indica algo sobre essa região do oceano.
Se pensarmos no oceano aberto (pelágico) como uma cebola com várias camadas, veríamos cinco grandes zonas, cada uma mais funda e escura que a anterior:
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- A eufótica, que vai até 200 metros: é a zona mais iluminada, onde ocorre a fotossíntese e vive a maior parte da biodiversidade marinha, como peixes, algas, plâncton e corais.
- A crepuscular ou mesopelágica, que alcança até 1 000 m: é a zona de transição, onde a luz é muito fraca e difusa, e vive uma fauna adaptada à escuridão, como lulas, polvos, crustáceos e peixes bioluminescentes.
- A batipelágica, que corresponde às águas que chegam até 4.000 metros, onde a luz solar não penetra mais: é a zona afótica, onde a temperatura é baixa, a pressão é alta e o oxigênio é escasso, e vive uma fauna especializada, como peixes abissais, anfípodes, holotúrias e bactérias quimiossintéticas.
- A abissal, que vai de 4.000 metros até o fundo do mar: é a zona mais profunda e inóspita, onde a temperatura é próxima de zero, a pressão é extrema e o alimento é raro, e vive uma fauna reduzida e peculiar, como peixes-caracol, anfípodes gigantes, vermes tubulares e bactérias termofílicas.
Além dessas zonas, existe ainda a zona hadal, que corresponde às trincheiras oceânicas, que são depressões no fundo do mar que podem ultrapassar 11.000 metros de profundidade.
Ciclo do carbono nas trincheiras oceânicas
O carbono é um elemento essencial para a vida e para o clima. Algumas pesquisas indicam que as trincheiras são importantes reservatórios de carbono, que capturam o CO₂ da atmosfera e o armazenam nas profundezas do oceano.
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“Há mais carbono armazenado do que pensávamos e isso significa que há um sumidouro de CO₂ no fundo do mar que não conhecíamos”, disse o biogeoquímico Ronnie Glud à BBC em 2011, ressaltando o valor das trincheiras: elas ocupam cerca de 2% do oceano, mas o seu papel na captura de carbono é “desproporcional”.
“Estimamos uma taxa de sepultamento de carbono negro na zona hadal que é sete vezes maior do que a média oceânica por unidade de área. Propomos que seja um sumidouro importante, mas ignorado, de carbono negro no oceano”, afirmou um estudo publicado no ano passado na revista ‘Nature’.
Há vida na zona hadal?
Apesar da zona hadal ser um dos lugares mais inóspitos da Terra, com alta pressão, baixa temperatura, pouca luz e pouco oxigênio, há organismos que conseguiram se adaptar a essas condições.
As primeiras expedições que exploraram os abismos foram feitas na metade do século passado e desde então o nosso conhecimento aumentou.
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Hoje sabemos, por exemplo, que os vertebrados hadal mais comuns são os peixes-caracol liparídeos, que podem viver a mais de 8.100 metros de profundidade.
Em 2019, um grupo de pesquisadores descobriu uma nova espécie na Fossa das Marianas, a 7.415 metros de profundidade, Pseudoliparis swirei, um peixe pequeno, rosa e sem escamas.
É assim que alguns cientistas chamam a zona hadal, que consideram “a última grande fronteira da ciência oceânica”.
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